domingo, 15 de novembro de 2009

Sem sair de um mesmo sitio

Uivo seco sem eco, na casa vazia.
Rebolo-me pelo chão, esfrego-me pelas paredes
sem deixar quais quer marcas.
Prolonga-se noite dentro este ritual.
Ouço o sino a tocar repetidamente
numa desarmonia sonora sem fim,
o relógio descompassado gira em sentido inverso
enquanto o meu corpo do avesso, como que sonâmbulo
deambula pelo enorme quarto vazio.

Visto-me a correr desajeitadamente e saio.
O sétimo andar é alto parece-me,
mas sempre julguei morar no terceiro.
Saio porta fora com a pele arrepiada
e os pêlos como agulhas espetadas.
Sinto o chão como se usasse sapatos de papel,
sinto tudo enquanto vagueio ofegante.
Vejo-me reflectido num espelho, estou nu.

Corro, tropeço no meu embaraço
com o corpo coberto de orvalho.
Trespasso a porta de entrada, e a outra em seguida,
Estendido no chão do corredor, choro e soluço
num descontrolo tal que todo o corpo treme.
Esbofeteio a face num ritmo quase matemático
na tentativa desesperada de acordar.
Estou louco de vez…






11-11-2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dias quentes de Outono

O sol põem-se devagar
e tu no meu horizonte
em sossego deito a cabeça sobre o rio
esperando pelas tuas carícias para me embalar.
Os pensamentos tristes partem, para longe
na carruagem que ruma a oeste.
Sopra uma brisa suave
espalhando sem querer as limalhas dos desejos
que transbordo por ti descontroladamente.
Levas com elas na cara devagar,
sente-las?

Na azafama em redor
não te perco de vista por um momento
somente quando a vergonha me toca.
Num movimento suspenso só tu e eu existimos
nos intervalos dos momentos que partilhamos
com todos os outros em redor.
Naqueles momentos em que os olhares se cruzam
e os sorrisos se trocam em segredo
beijamo-nos em pensamentos enquanto aguardamos
tocamo-nos na pele quente dos corpos ofegantes
espelhados na retina um do outro,
continuamos à espera.

A tempestade já vai longe
dela sobrou apenas o eco da trovoada
feriu-me os tímpanos, mas não o coração.
Escondo segredos debaixo das telhas
aqui em frente bem perto de ti,
e no musgo deixo-te palavras
de todas as vezes que ali esfrego a boca
e da saliva escorreram copiosamente.
Estendo-me nas cordas aqui em frente,
não me deixes ali a secar,
Sabes, nestes dias quentes de Outono
tudo murcha quando não colhido na altura devida





23-09-2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uso gratuito

Força bruta de anis e amêndoas doces,
suspiros profundos de coração aberto
deixando escorrer a seiva agridoce.
Os pensamentos outros braços
membros musculados e descontrolados,
ah como odeio que me apertem o pescoço.

Pressagio a desgraça e a ruína.
Ato as mãos aos pés
e penduro-me no espeto da censura e da loucura.
- “Bem passado se faz favor. Obrigado!”

Dá-me cabo da tesão se fazes favor.
Agradece-me a frigidez e o pequeno-almoço,
sai pela porta de frente
e limpa os pés no tapete da vizinha.
Lá já não moro eu.







Setembro 2009

Varanda sobre o tejo

Nesta varanda sobre o Tejo debruçada
o teu corpo compacto flutua.
Daqui os teus olhos brilhantes iluminam-no
quais faróis em alto mar.
Guias-me, barco perdido que aqui encalhou.
Amarra solta ou larga de mais
não me fixa a este falso porto de abrigo
continuo à deriva como sempre
por sítios longínquos onde a tua luz não me alcança.
A vida no mar custa a quem é marinheiro de improviso
com aspirações de Capitão Zarolho.

Acordado de sobressalto
pelo rugido do navio vizinho
que me lança contra os pilares de aço vermelho.
Já é cedo meu querido
a luz do sol substitui-te agora com o dia a começar,
e lá estás tu, viga de aço hirta e sem luz.

Já me sangram as mãos de remar
e o coração de lutar e esperar, aos poucos desisto.
Os pássaros começam já a partir
anunciando o fim da estação quente
e eu com eles penso partir, para não mais voltar.
Atravessar rochedos e vagas
sem que esta velha embarcação já gasta se desfaça
e procurar outra luz e outro porto de abrigo
antes que os meus olhos crispados
pelo sal do mar e das lágrimas,
deixem de ver qualquer outra luz.
Já é hora de desembarcar e repousar…







Agosto de 2009

Se me perguntares se ainda te amo,
hesitarei, mas dir-te-ei que sim.
Se me perguntares se ainda te quero,
dir-te-ei que não.
O amor que existira outrora dissipa-se
deixando no seu lugar a saudade e a ausência de outros tempos
não tão longínquos como parecem,
e com a mesma importância desses tempos.
Nessa altura não estava só.

Planeámos uma vida a dois
que se construiu em pilares muito frágeis ao que parece,
estes desmoronaram demasiadamente rápido
e a sua intensidade não permitiu que se reconstruíssem,
Continuo a tentar recompor-me dessa fatalidade.
A dor persiste no âmago.

Não passeámos juntos pelas luzes embriagantes da cidade
ofuscados pela intensidade em redor.
Não nos redescobrimos nesse novo contexto
para o qual tínhamos planos para nada,
e esse futuro comum inexistente
nunca antes como agora pesa na minha consciência
pois nunca fora tão real.
Ainda o quero construir contigo.

Sinto uma grande falta em mim
que dificilmente conseguirei colmatar,
tentei com bastante esforço mas em nada resultou.
Quanto mais tento mais falho.
Agora sinto-me só.



03-06-09

Cheiro

Sai-o da sala e encontro-a
- cheiras a sexo!: diz
- não, cheiro a homem.
Aquele cheiro a suor, esperma e nicotina,
Fósforo incandescente saído da tumba
Corpo putrefacto.
É das noites de insónia
Do corpo acelerado por uma velocidade maquinal.
Apodera-se, entranha-se devagar
Consome rápido.
É este o meu cheiro
Não é sexo Teresa, não é.

Mas em breve esse será o meu cheiro
Desfilarei pela rua radiante
Com o meu novo perfume
O do corpo vivido, de deleite.

Desta vez o rei não vai nu Teresa!








Algures em Junho do 2008

Insanidade em 2 actos

Acordaste-me de surpresa, do sono dormente
e em mim despertaste a vontade de possuir ardentemente.
Apetece-me beijar a tua boca estranha,
sentir o teu cheiro desconhecido
em harmonia com o cheiro distante a couro e diamantes.
Que as tuas mãos agarrem a minha carne
de forma terna e profunda
e os mamilos se enrijeçam ao deslizar da tua língua afiada
por todo o meu corpo por explorares.
Quero que os meus lábios sintam requinte
ao tocarem o teu escroto, quente e delicado,
a palpitar acelerado,
ao ritmo dos corações fogosos.

Desejo-te.

Sinto hímen do teu corpo.
Anseio por te tocar delicadamente,
afagar o teu peito devagar.
Quero que me agarres
e me queimes com os teus braços fogosos,
que à sua passagem sobre a pele deixem marcas do êxtase.
Do teu corpo recolho o sal pelo suor deixado
gota por gota, como se de pérolas se tratasse.

Dois homens lindos que se consomem,
se tocam e se gastam de prazer
e nesse deleite se incendeiam por fim.
Ambos os corpos acesos se acalmam devagar
em repouso, um sobre o outro.

Desejo-te.








19-08-20008

A vida começa amanhã…

Descolei-me da parede que me enfrenta
para a qual olho todos os dias
quando me deito, e quando me levanto
fartei-me do seu peso
esgotou a sua inércia.

Faço a cama empolgado
“é hoje que te troco”.

Nesse lugar irá estar um novo eu colado.
Amanhã quando acordar irei ver-me ali
mas desta vez será um outro.

Deito-me
dormirei com a esperança de acordar
quem na parede está agora colado.

A vida começa amanhã…





15-01-08

Eu ela ele

No centro deste enxame
o colapso fogoso,
estou em fogo por dentro
eu ela ele, sei lá.

Em cada passa que dou
neste cigarro provocador
penso em ti,
e na tua ausência descorada.

Procurei, chamei por ti
mas não voltaste.
Neste quarto
só resta a tua memória,
a tua voz arrepiante
e algum do nosso amor
por ti usado e abandonado.

Em mim permanece.
Na inconstante identidade
deste sentimento sem género
hoje homem, amanhã mulher
por dentro um, por fora outro
no equilíbrio dos dois
descanso e medito finalmente.




2007

Estilhaços

Se diante dos teus olhos o céu desabar,
e atrás de ti
corações de cristal se quebrarem
deixa!
Respira fundo e não temas
a brisa da manhã varrerá os cacos por mim deixados
e a tempestade já calma
reconfortar-te-á como a mãe que afaga um filho
e eu, prosseguirei viagem
percorrendo as ruas iluminadas pelo amanhecer
diante do teu olhar indiscreto e malicioso.

Quando voltar
murmurar-te-ei ao ouvido as minhas viagens
e com o céu já avermelhado
saberás que voltei
para que o chão que pisas não te desabe também,
e se isso acontecer
não te preocupes
pois estarei lá para te aparar a queda…





24-07-2006

Fogo

Tu, está em fogo na minha cama
pedindo aos deuses para não nos acordarem,
para que o momento
em que nos damos um ao outro
seja eterno.
Amanhã acordaremos agarrados
com uma vontade maior de amar
de forma louca e descontrolada.

Se em fogo permaneceres na tua cama
lembra-te de mim,
porque também eu estarei em fogo na minha,
pensando em ti.





2005

Bifurcação

Encosta a tua cabeça pesada no meu ombro
aconchega-te no meu regaço
aquecerte-ei enquanto precisares.
Coração, parede mestra deste edifício
que embora em ruínas ainda aqui permanece.
Aguento em mim dez cabeças tuas
é dos alicerces, bem feitos de raiz.

Bifurcação do coração,
uma directa ao cérebro
a outra directa ao intestino
ambas com problemas de conservação,
é das cabeças que já cá pesam
dos demais como tu.



2005-04-22

Novo

Por detrás das dunas de nuvens já o sol se pôs.
Todas as amarras estão soltas.
No chão de cardos rebolamos os dois, nus
até que os nossos corpos cravejados de espinhos
se esgotem de felicidade ,
e cansados se fundam ao cair da noite.

Saibamos antes de mais
que nós dois seremos cúmplices do que não podemos fazer,
de tudo o que mais ninguém deve saber.
Não faz mal, porque o que sentimos gritamos ao mundo bem alto
e nada pára o eco das nossas vozes
nem mesmo a imensidão do oceano com que nos deparamos
engolirá o nosso amor.

Adormecemos como sendo um só.
Os teus sonhos são meus também.
Esmaga-te sobre esferas de aço! Eu estarei lá para te salvar,
serei uma presença constante
tem calma, não tenhas medo, não acabará tão depressa
e a noite ainda é longa, deixa-te levar, eu guio-te.
Liberta-te com as amarras.

Amanhã acordarás com alguém a teu lado,
será um novo dia e tu um novo alguém...





2004

Falha

Falhei novamente,
consegui amar alguém durante tanto tempo,
tudo em vão sem dar lugar a qualquer recompensa emocional.
Nem assim me passou o sentimento que sinto por ti;
este, não vai embora contigo,
estou farto deste e receio-o
sim, porque eu sei que ele volta mais vezes,
é sempre assim, é um ciclo
vai e vem com o vento,
com as ondas deste mar que me banha
e inunda a cabeça de dor.
Esgotei-te até não dar mais,
gastei-te na minha memória,
secaste na minha boca de todas as vezes que disse o teu nome
e adormeceste no meu colo de todas as vezes que pensei em ti
mas já não existes mais aqui, em teu lugar
nos meus braços só as tuas marcas sobrevivem.
Aproximaste devagar, secalhar já tarde demais e tu não o sabes,
agradeço-te por tudo...





2004

Jejum

Jejuavas de mim por dentro
esgotando o pouco que restava no teu interior
e agarraste-te à fonte de energia mais à mão.
Deixas-me em total jejum também,
estou de ressaca de ti
ansiando por alguém que me mate a fome
de te comer e matar,
amar e te colher os frutos.

Fazes-te de uma armação de ferro,
que na realidade é de papel,
aguardando as chuvas de inverno
que rápido a destroem
deixando-te em papa de lama e papel podre.




2004

Alucinação

Eu, mantinha-me naquele banco forrado de uma aura amarelada que quase já me tinha envolvido também. Fitei-te por cima dos meus óculos de massa preta, vinhas de vestido solto, embora sobressaisem os teus seios espetados e as tuas ancas bem delineadas, vinhas com o teu ar seguro e com palavras que pareciam ensaiadas dirigias-te com desdêm aos tarados que se masturbavam de olhar aregalado enquanto passavas por eles.
Voltei a olhar para o papel cor de carne que fustigava em cada traço que desprendia sobre ele, deixando-o a sangrar através de gestos inseguros.
Quando voltei a olhar já estavas a sentar-te junto de mim. Falavas comigo à já algum tempo muito provavelmente, embora eu não te tivesse escutado. Voltei-me na tua direcçãopara te escutar mas todas as palavras que ressoavam da tua boca não eram por mim entendidas, não percebia se estavas a falar numa outra lingua que eu não conhecia, havia sido apanhado de surpresa e não sabia como reagir, deixei de ouvir, ver e sentir, simplesmente gelei.
O toque da tua mão no meu rosto foi a chama que me descongelou, levantáste-te e deste-me a tua mão para que te acompanha-se, então partimos avenida a baixo, e eu sempre a sentir que não chegaria ao fim desta, eram tantos os tiros que me cravavam nas costas aqueles porcos, todos eles te queriam, embora nenhum te quisesse cuidar, só te queriam foder a rata.
Agora já mais calmo comecei a descodificar aquilo que dizias, estavas a dizer o quanto moravas perto de onde estavamos, sentia-me ainda indeciso mas acabei por ceder e acompanhar-te a casa.
Senti-me triste ao perceber que ao fim de cinco minutos de conversa no sofá já te estavas a despir, pronta para foder. Bem, embora eu também o quisesse não era esse o pretexto que me levava a permanecer ali onde estava, eu por e simplesmente queria conversar, queria ouvir e falar, queria acariciar-te, cuidar de ti como a uma coisa preciosa que não queremos que se estrague, mas essa coisa caira ao chão e partira-se mesmo á minha frente e eu sem poder fazer nada para o evitar.
Levantei-me do sofá e despedi-me, desci as escadas um pouco a cambalear ainda abananado com a desilusão. Era realmente agonizante perceber que por detrás da tua fachada de donzela existia na realidade uma puta, eras apenas mais uma puta de gosto requintado.
Amanhã estarei lá novamente, para te ver a passar e para ver aqueles porcos famintos, inspirar-me-ão mais uma vez para continuar a escarificar na minha pele a tristeza dos dias, e na carne o desenho descuidado daquilo que me rodeia.






2004
Era uma vez um rapaz
que cresceu e desapareceu ...

Era uma vez um rapaz
que viveu e sofreu ...

Era uma vez um rapaz
que muitas vezes se apaixonou
e sempre falhou ...

Era uma vez um rapaz
que em tempos o fôra
e que agora já não o era ...

Era uma vez um homem
que pensava que já era alguém,
e quando olhou melhor
viu que não era ninguém,
era apenas a sombra daquilo que poderia ser...

Era uma vez muitas pessoas como eu ...

...









2004

Faroleiro

A promiscuidade das ideias martelava o vazio iluminado pelo farol,
era tão ôco e tão austéro que se perdia na efemeridade da paisagem.
Surgiam demasiado cedo sobretudo as que não queria;
aquelas, sobre coisas que não queria pensar ou sequer sentir!
Acordo subersaltado com o grito rouco de um homem
era o faroleiro, perguntava-me se estava bem,
não sabia o que lhe dizer, mal sabia quem era naquele momento
ou sequer o que estava ali a fazer, bem como em qualquer outro lado.
Só depois me começei a lembrar.
Haviamos fugido os dois à procura!
Não disseras ao certo do quê, mas confiei na tua confiança,
tu sim estavas seguro
via no brilho dos teus olhos que sabias o que procuravas.
Não me recordo do caminho, nem como o percorremos
a noite estava encantada tal como eu, por isso te perdi
algures durante a viagem dei por tua falta
mas achei que estavas sempre a meu lado,
disseste-me qual o caminho para o nosso porto de abrigo
e ao meu ouvido sussuraste onde era o farol.
Quando lá chegei, deitei-me e logo adormecemos abraçados
embora ja não estivesses junto de mim, eu sentia-te.
Então sonhei toda a madrugada contigo e com o que não queria.
Ainda hoje não sei como aqui vim parar
mas sei que o faroleiro e eu ainda hoje nos amamos
...









2004

Espinhos

No triste empalidecer do dia
procuro a tua alma perdida
sufocada pela sua névoa.

Nas tuas veias correm espinhos
que te doem e magoam.
És um ser quase insensivel
sem amor pelos outros
provucando-lhes o que sentes nas tuas entranhas.

Procura incessante esta, é minha e agonizante,
sei que um dia ir-me-ei fartar
desta inesgotavel luta comigo, por ti!

O teu corpo sem vida,
é com ele que me deparo constantemente,
“morto” já pouco deixas transparecer
de ti mesmo, escondes-te de tudo.

És a mina fobia presente,
a minha dor e sofrimento.
Porque quererei eu amar-te assim?
Dá-me a razão de tal vontade!
Explica-me , para que te espere
e te continue a procurar.




2003

A ti

Apetece-me tocar-te, abraçar-te até ao sufoco
Tenho vontade de te beijar os lábios
As mãos, os pés, todos os teus locais
Sentir o teu sexo tocar o meu
As nossas mãos entrelaçarem-se
Enquanto nos procuramos mutuamente
Como se de um mapa os nossos corpos se tratassem
Quero-te muito, junto de mim
Tenho vontade de contigo me deitar
Deleitarmo-nos até ao acordar do dia
E vivermo-lo juntos
Apetece-me abraçar-te ao acordar,
Sentir-te junto a mim
Transbordando amor e cheiro a esperma de felicidade
...





2003

Nada

Vagieo por entre escombros de luxuria
rodeado de banalidades, tudo.
Sacrificio feliz
com tudo, e nada, o vazio
a anulação do ser, do perfeito.

Maresia de cimento, empregna-me as narinas
até ao cérebro vai corroendo,
em conjunto com o fedôr de corpos nus de felicidade.
falta de ser.

Deles nada vem
somente o demente fedor, marezia e luxuria,
o vazio, o nada.

Simples matéria mal composta,
bem como de nada tem, anula-se.
Consome-se, consome-me
...





2002

Fétido

O ar tem cheiro de corpos mortos,
está denso e pesado como eu!
Abeiram-se de mim as putas
que sem eira nem beira
percorrem incessantemente as ruas,
estas que parecem ter carris
onde corpos imundos e fustigados pela vida.
Percorrem as linhas como verdadeiros electricos
cheios, a abarrotar pelas costuras
de esperma e dor,
também de prazer e agonia.

Sinto-me morto, consumido.
Estilhaços de pessoas cortam-me as veias,
as com que me cruzo nesta estranhas ruas,
todas elas parecem fazer parte
desta rede de transportes publicos.




2002