domingo, 15 de novembro de 2009

Sem sair de um mesmo sitio

Uivo seco sem eco, na casa vazia.
Rebolo-me pelo chão, esfrego-me pelas paredes
sem deixar quais quer marcas.
Prolonga-se noite dentro este ritual.
Ouço o sino a tocar repetidamente
numa desarmonia sonora sem fim,
o relógio descompassado gira em sentido inverso
enquanto o meu corpo do avesso, como que sonâmbulo
deambula pelo enorme quarto vazio.

Visto-me a correr desajeitadamente e saio.
O sétimo andar é alto parece-me,
mas sempre julguei morar no terceiro.
Saio porta fora com a pele arrepiada
e os pêlos como agulhas espetadas.
Sinto o chão como se usasse sapatos de papel,
sinto tudo enquanto vagueio ofegante.
Vejo-me reflectido num espelho, estou nu.

Corro, tropeço no meu embaraço
com o corpo coberto de orvalho.
Trespasso a porta de entrada, e a outra em seguida,
Estendido no chão do corredor, choro e soluço
num descontrolo tal que todo o corpo treme.
Esbofeteio a face num ritmo quase matemático
na tentativa desesperada de acordar.
Estou louco de vez…






11-11-2009